
Todas as manhãs, eu ouço sempre a mesma propaganda no rádio. Um monólogo onde um cara diz:
"
A vida é mesmo engraçada: Eu achava que ia ser bombeiro, que ia ter cabelo para sempre, que nunca eu ia deixar de detestar as meninas, que sempre iria preferir chiclete de bola ao de caixinha, que acordar cedo seria sempre um saco... E que nunca haveria problema maior na vida do que uma prova de química. Que bom que a vida é cheia de surpresas!"
Pois é: Eu quase ouço esse monólo na minha própria voz todas as manhãs.
Eu, por exemplo, achava que quando eu chegasse na idade em que eu estou, odiaria o Eric Clapton, que iria achar o Mick Jagger uma bichinhha asquerosa que perdeu o senso de ridíciulo, que iria adorar assistia à novela das oito.
Eu achava que ia dizer a mesma coisa que o meu pai dizia quando ouvia rock: "...Porra! Isso não é música, é um barulho irritante, uma gritaria danada!", tinha medo de ficar velho porque ia ficar feio, barrigudo e cheio de cabelos brancos, achava que a gente só amava os filhos enquanto eles eram bebezinho e estavam aprendendo a andar, falar...
Me batia uma certa tristeza porque eu achava que não ia mais gostar de jogar bola, que ia ter que tomar cerveja e aposentar a coca cola geladinha...
Mas o mais engraçado, é que eu achava que depois de uma certa idade, a gente não corria mais o risco de se apaixonar avassaladoramente como era na nossa adolescência, que a fase de amar alguém, se acabava quando a gente casava, tinha filhos, ficava mais velho... Achava que ouvir uma música e lembrar de alguém, era coisa de colegial enamorado, que não sentiria mais aquela fisgada no peito de paixão por alguém, que as mulheres (e os homens também), depois dos quarenta, quarenta e poucos, se tornariam senhoras distintas, mães, esposas e não teriam mais nenhum atrativo.
Eu ouço essa propaganda todos os dias, religiosamente no mesmo horário! Esse texto é tão inteligente e real (por isso é inteligente), que até hoje eu não consegui decorar quem é o anunciante.